terça-feira, 29 de junho de 2010

Cronologia cinéfila pessoal - 3

Em termos de memórias afetivas, a década atual começou com o cine Baltimore fechando as portas de suas quatro salas (o anúncio Sala 5 - breve - inauguração completou cerca de doze anos) para virar um estacionamento. Ingressos em talões coloridos, tia de bigode antipática na bilheteria, bomboniére improvisada de onde roubei cards de chocolate surpresa (dinossauros) pra completar minha coleção, tudo isso se foi (chuif). Não tenho certeza de qual foi o último filme que vi lá, mas creio ter sido o Episódio I de Star Wars.

2001
VHS | Meu último ano com um videocassete, e o último em que a expressão “limpar os cabeçotes” teria algum sentido. Mas que deixou boas lembranças, em pelo menos três momentos catárticos de identificação: com Elijah Wood em Tempestade de Gelo (é incrível como um filme que, na época, não me pareceu nada de mais, até hoje tem tantas cenas marcadas na lembrança - em especial aquela dos fios elétricos na estrada, no final), Tobey Maguire em Garotos Incríveis (que, por consequência, me levou a ler os livros do Michael Chabon), e Jake Gyllenhall em Céu de Outubro.
Cinema | Casos dignos de nota na memória pessoal: primeira (e, espero, única) vez em que gritei de susto num filme foi vendo Os Outros, num Imperial da Rua da Praia lotado. | Ódio mortal a adolescentes em cinemas nasceu durante a estréia de Tomb Raider, embora o filme não merecesse platéia melhor. | Pra ser BEM sincero, a coisa mais empolgante naquele ano foi o primeiro trailer de Senhor dos Anéis (tinha lido os livros no ano anterior). Agradeço à PUCRS pelas horas de trabalho procrastinadas e à conexão rápida. Nunca me esquecerei, no ano anterior, da experiência de baixar o trailer de X-Men num computador com conexão discada, numa resolução minúscula, dando play de novo a cada dois ou três segundos a mais de imagem.

2002-2003
Cinema | O período de dois anos, entre 2002 e 2003, deve ser quando mais se registrou a emergência de uma nova geração do chamado “maluco fantasiado na fila do cinema”, graças ao lançamento de filmes como Senhor dos Anéis, super-heróis da Marvel em geral, as continuações de Matrix e a segunda trilogia de Star Wars. É também o período onde eu e meus amigos da faculdade passamos a fazer das filas de cinema um momento de encontro social, com ingressos comprados com antecedência (colecionando brindes como canecas e copos de filmes, principalmente os dados pelo Cinemark), horas e horas sentados em filas esperando por sessões de pré-estréia que começavam à meia-noite, sendo entretidos por malucos fantasiados que posavam para fotos (há fotos no PC de alguém de uma memorável luta ensaiada entre um Homem-Aranha gordinho e um Batman de fantasia rasgada). Também nunca esquecerei o estouro de manada na fila de Matrix Reloaded, onde o povo saiu correndo feito desesperados para garantir o melhor lugar. O tipo de coisa que se faz quando acordar cedo no dia seguinte é uma opção (embora pra mim, que já trabalhava na época, não fosse).
DVD | O primeiro filme em dvd que tive foi Jurassic Park 3, presente de aniversário do meu pai. O detalhe é que eu não tinha ainda um aparelho de dvd, e precisei esperar alguns meses até poder assistir ao disco de extras, uma coisa que parecia tão interessante na época e pro qual hoje eu tô cagando. Colecionar dvds de filmes queridos foi uma mania que eu, a muito custo, me livrei. Mas enquanto durou, me permitiu redescobrir pequenas coisas que entraram pro meu cânone pessoal – Amadeus, o Barry Lyndon do Kubrick (eu emolduraria qualquer cena do filme) e O Enigma de Outro Mundo - cujos extras me revelaram que, na maioria dos filmes de monstros, babas e gelecas são feitas utilizando KY, que para surpresa até dos técnicos de efeitos visuais, é vendido em baldes.

2004-2005
Cinema | A inauguração do Unibanco Arteplex, um cinema melhor tanto em qualidade de seleção de filmes quanto de som e imagem (exceto nas toscas projeções digitais da Rain), aos poucos foi matando a função de “acampar na fila”, até porque o piso de laje era frio (contra o carpete do Cinemark) e o espaço não era propício a gurizices do gênero. De uma penca de blockbusters assistidos em grupo no cinema, pouca coisa se salva (o segundo Homem-Aranha e o Harry Potter do Alfonso Cuarón, que me levou a ver E sua mãe também), e o que me marca são filmes pequenos, assistidos meio que empurrado, como Dogville e Marcas da Violência (ambos me levando a descobrir Lars von Trier e Cronenberg, o segundo do qual passo a assistir quase tudo que dirigiu). Minto: há trasheiras memoráveis em sua própria tosquidão e que, longe de serem sequer apreciadas por um viés camp, ficaram gravadas na memória pelos incríveis momentos de mau-gosto e mediocridade. Filmes como Van Helsing, Aliens vs. Predador (convenci um amigo a ver sob o argumento de que no Arteplex dava pra pedir cerveja na bomboniére), Tróia e, claro, Mulher-Gato, assistido no Cinesystem, o mais trash dos multiplexes de Porto Alegre. Aliás, os únicos se divertindo na sessão era um grupo de quatro travestis sentados duas fileiras abaixo da nossa.
DVD | Graças ao dvd, passo várias madrugadas em companhia dos amigos, movidos à base de xis, pizza e totosinhos, descobrindo filmes do Hitchcock (do qual Os Pássaros é meu franco favorito), THX-1138 (de quando George Lucas era mais artísta que empresário), filmes do Herzog (aqueles dois colossos de filmes que são Aguirre e Fitzcarraldo), e, após muita insistência do Fredy, filmes do P.T. Anderson (Magnólia e Embriagado de Amor).

2006-2007
Computador | É por essa época que começo a baixar filmes direto no computador, principalmente os nunca lançados ou sem previsão de lançamento. Pequenas escolhas aleatórias me proporcionaram lembranças marcantes: o Titus de Julie Taymor, uma extravagância visual que ainda não entendi direito, eXistenz do Cronenberg, que continua inexplicavelmente inédito até hoje no Brasil, o Metrópolis do Fritz Lang, e algumas ficções-científicas setentistas como Fuga do Século 23 e Westworld.
DVD | A verdade é que assistir filmes com os amigos madrugada adentro nem sempre funciona, eventualmente durmo no meio do filme e acordo perto do final. Assisti Janela Indiscreta assim (e gostei), e Persona do Bergman (acordei e disse “ah, é Clube da Luta pra mulher, então?”). Mas A Malvada, Fome Animal e Psicose me mantiveram bem acordado o tempo todo.
Cinema | Eu e minha mãe, no cinema para ver Apocalypto, quando o projetista erra o rolo e entra de repente O Trapalhão e a Luz Azul, filme do Didi. Até aí tudo bem, pq o erro foi logo constatado e o filme certo trocado, mas depois me ocorreu que em outra sala, crianças poderiam estar vendo um maia comendo os testículos de uma anta destripada.

De resto, há um índice de aproveitamento muito baixo, se comparar a quantidade de filmes que vi com aqueles que eu levaria comigo para uma ilha deserta provida de dvd, mas não era a minha idéia fazer lista de melhores, e como daqui por diante tudo é muito recente pra ser avaliado criteriosamente, essa lista termina aqui.

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